Como a tecnologia afeta adolescentes e jovens?

My Journey Health
6 min readNov 8, 2023

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No século XXI, o nosso mundo tornou-se profundamente entrelaçado com a tecnologia, e o epicentro dessa transformação encontra-se no vasto e em constante expansão “Mundo Digital”. A revolução tecnológica tem moldado a maneira como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos, e seus efeitos são particularmente notáveis na geração de adolescentes e jovens.

Hoje, mais do que nunca, jovens estão imersos em um ambiente digital repleto de dispositivos eletrônicos, redes sociais, videogames, informações instantâneas e oportunidades de aprendizado sem precedentes. No entanto, esse mundo digital também traz consigo desafios complexos e implicações significativas para o desenvolvimento e bem-estar dessa faixa etária.

TEMPO DE TELA

No dia 29/06/23 foi lançado a segunda edição do Covitel, o estudo de monitoramento dos fatores de risco para doenças crônicas no Brasil. A pesquisa traz informações sobre prática de atividade física, hábitos alimentares, saúde mental, estado de saúde, prevalências de hipertensão arterial e diabetes, consumo de álcool, tabagismo e poluição do ar.

Na pesquisa realizada em 2023, realizada com 9000 brasileiros adultos entre 18 e 24 anos, no período de Janeiro a Abril de 2023, mostrou que 76,1% destes jovens adultos usam tablets, celulares ou TVs por 3 ou mais horas/dia para lazer.

Fonte: ABEAD
Fonte: ABEAD

Com o presente artigo, queremos nos ater a crianças e adolescentes (9 a 17 anos) e destrinchar a pesquisa TIC Kids Brasil Online Brasil de 2022.

A pesquisa teve como objetivo gerar evidências sobre o uso da Internet por crianças e adolescentes no Brasil. Realizada desde 2012, a pesquisa produz indicadores sobre oportunidades e riscos relacionados à participação online da população de 9 a 17 anos no país.

Em 2022, 86% dos usuários de 9 a 17 anos reportaram possuir um perfil em uma rede social (96% para os usuários de 15 a 17 anos). Dentre as plataformas investigadas, o WhatsApp (78%), o Instagram (64%) e o TikTok (60%) são as que os usuários mais possuem perfil, seguidas pelo Facebook (47%), Twitter (14%) e Snapchat (13%). Em relação à principal rede social que utilizam, pouco mais de um terço das crianças e adolescentes usuários de Internet mencionaram o TikTok (35%, sendo 46% entre as crianças de 11 a 12 anos) e o Instagram (35%, chegando a 51% entre os adolescentes entre 15 e 17 anos), enquanto 7% consideraram o Facebook como a principal rede social utilizada.

Para que possamos comparar como as redes sociais estão presentes na vida das crianças e adolescentes, vejamos os números de 2021 e 2022.

Fonte — Pesquisa TIC Kids Online Brasil 2021
Fonte — Pesquisa TIC Kids Online Brasil 2022

Além de serem práticas amplamente realizadas, o uso de redes sociais e os jogos online estiveram entre as atividades praticadas com maior frequência por crianças e adolescentes. Em 2022, 67% dos usuários de 9 a 17 anos reportaram o uso diário de redes sociais e 43% indicaram ter jogado online conectados com outros jogadores diariamente.

MAS QUAL O GRANDE MAL NISSO TUDO?

O TikTok é permitido para jovens maiores de 13 anos, e crianças e adolescentes com idades inferiores a 13 anos não podem ter uma conta na plataforma. Quando comparamos as duas imagens acima, percebemos que o TikTok ainda é o preferido entre crianças e adolescentes de 09 a 12 anos. Inclusive, a empresa recentemente anunciou ter removido 20 milhões de contas suspeitas de pertencerem a crianças e adolescentes com idade inferior ao mínimo estipulado.

A empresa já vem sendo pressionada a tomar uma atitude sobre a restrição de conteúdos impróprios há algum tempo. Em junho, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), órgão do Ministério da Justiça e Segurança Pública brasileiro, intimou o TikTok a tomar uma providência neste sentido e a empresa já foi processada por alegações de ferir o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Vejamos agora 3 estudos sobre a exposição de conteúdos como tabaco e álcool nas redes sociais e como isso pode impactar nossas crianças e adolescentes.

Uma revisão sistemática de 2022 mostrou a associação entre a exposição ao conteúdo do tabaco nas mídias sociais. Aqui estão os dados deste estudo.

  1. Revisão de sistemática de 29 estudos;
  2. Analisaram postagens de usuários quanto de patrocinadores;

2. EUA, Índia, Austrália e Indonésia;

3. 100.666 adolescentes (menores de 18 anos), 20.710 jovens adultos (de 18 a 25 anos) e 18.248 adultos (acima de 25 anos);

Agora vejamos os principais achados deste estudo:

  • Quem vê (redes sociais) tem mais chance de fumar ao longo da vida, assim como de ter consumido tabaco nos últimos 30 dias.
  • As pessoas que nunca experimentaram cigarro e viram as postagens ficaram mais propensas em usar pela primeira vez.

Outro estudo mostrou a influência das mídias sociais no uso de drogas por adolescentes.

Fonte: PubMed

Os principais achados deste outro estudo foram:

  • 5 vezes mais provável em comprar cigarros;
  • 3 vezes mais propensos a beber;
  • 2 vezes mais propensos a usar maconha;

E por último temos um estudo que saiu recentemente que nos mostra que adolescentes que vivem nas redes sociais são mais suscetíveis a experimentar cigarros eletrônicos.

Os pesquisadores observaram que o uso de mídia social estava associado à suscetibilidade subsequente ao uso e início de cigarros eletrônicos, mas não ao uso contínuo de cigarros eletrônicos, entre adolescentes dos EUA com idades entre 12 e 16 anos.

Para descobrir essa relação, eles avaliaram dados de mais de 7.000 adolescentes entre 12 e 16 anos participantes do Population Assessment of Tobacco and Health (PATH), um estudo longitudinal que avalia o impacto do tabaco na saúde dos americanos.

“Um dos principais perigos das redes sociais é justamente a exposição a informações midiáticas e chamativas, nem sempre com dados informativos de prós e contras. Crianças e adolescentes podem não ter a maturidade para saber o quanto isso é prejudicial”, diz a psicóloga Caroline Nóbrega, do Hospital Israelita Albert Einstein. “O vape está muito relacionado a festas, a algo ‘descolado’, e esse conteúdo desperta curiosidade e vontade de experimentar até em busca de aceitação social."

Em suma, as evidências apresentadas destacam a influência significativa das redes sociais no comportamento dos jovens em relação ao consumo de tabaco e álcool. Os estudos demonstram que a exposição a conteúdos relacionados a essas substâncias aumenta a probabilidade de experimentação e consumo, com consequências a longo prazo.

É crucial que pais, educadores e a sociedade em geral estejam atentos a essa questão, buscando estratégias para educar os jovens sobre os riscos associados e promover uma abordagem mais responsável nas mídias sociais. O equilíbrio entre o acesso à informação e a proteção da saúde dos jovens é um desafio que requer atenção contínua e colaborativa.

André Almeida — Empreendedor e co-fundador da startup My Journey Health. Membro associado da Associação Brasileira de Estudo do Álcool e outras Drogas (ABEAD).

Referências

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