Estigma e preconceito sobre um dependente químico.
Precisamos falar sobre estigma de um paciente com transtorno por uso de substância (TUS)
Para a Sociologia, num sentido contemporâneo, o estigma também pode ser conceituado como uma marca objetiva que recebe uma valoração social negativa.
O estigma associado a muitas condições de saúde mental é um problema bem conhecido.
Embora um progresso considerável tenha sido feito nos últimos anos, na redução do estigma associado a alguns transtornos psiquiátricos, como a depressão e ansiedade, essa mudança foi muito mais lenta em relação aos transtornos por uso de substâncias.
Este é um tema bastante delicado para pessoas com TUS e familiares. O assunto não é muito discutido no âmbito familiar e profissional por medo dos julgamentos que essas pessoas possam vir a sofrer.
Muitas vezes o próprio estigma e preconceito impossibilitam que as pessoas busquem ajuda e possam iniciar sua jornada de recuperação.
Pessoas que como eu, em época de uso, por muitas vezes mentiam ou roubavam, para conseguirem mais drogas, além de terem comportamentos agressivos quando estavam sob o efeito das drogas fazem com que esses comportamentos muitas vezes ultrapassem normas sociais o que torna difícil até mesmo para seus entes queridos demonstrarem compaixão. Daí surge a facilidade em se ver por que estranhos ou profissionais de saúde possam ser rejeitadores ou antipáticos.
Estigma social é uma forte desaprovação de características ou crenças pessoais, que vão contra normas culturais, e os usuários de drogas em geral sofrem com o estigma.
Estigmas sociais frequentemente levam à marginalização. Alguns estigmas típicos relacionados as pessoas com TUS: eles são perigosos, imprevisíveis, incapazes de administrar o tratamento, culpados por sua condição, etc.
Esse estereótipo pode levar outras pessoas a sentirem pena, medo, raiva e desejo de distanciamento social das pessoas com TUS.
Uma melhoria significativa que a sociedade poderia fazer é parar de pensar nos adictos como adictos e começar a pensar neles como pessoas com vícios. Um vício não define uma pessoa — ela a afeta. Há muito mais para uma pessoa do que qualquer doença que possa afetá-la, mas a sociedade às vezes tem dificuldade em vê-la.
Mudar essa perspectiva daria às pessoas com TUS uma melhor chance de recuperação, incentivando o ponto de vista da primeira pessoa. Embora o vício seja um problema ao longo da vida, não precisa ser uma sentença ao longo da vida que suprima todos os outros aspectos de uma pessoa e as contribuições que ela pode dar à sociedade.
Uma coisa muito comum é o estigma e preconceito de profissionais da área da saúde. Em um artigo escrito pela Nora D. Volkow, M.D. com o título Stigma and the Toll of Ad-diction, e publicado no The New England Journal of Medicine, toca em um ponto fundamental sobre o estigma que o paciente TUS sofre na área da saúde.
“O estigma não é o único fator que impede o tratamento adequado de pessoas com transtornos por uso de substâncias, mas, se quisermos alcançar a meta de saúde pública de obter e reter muito mais pessoas com transtornos por uso de substâncias em tratamento, precisamos garantir que o sistema de saúde não penalize as pessoas viciadas em drogas por sua condição.”
Ex-diretor da Política Nacional de Controle de Drogas dos EUA, Michael Botticelli está trabalhando para acabar com esta epidemia e tratar as pessoas com vícios com bondade, compaixão e justiça. Em um trecho deste vídeo (link) ele comenta que se sentiu mais confortável em dizer que era gay do que falar sobre a sua dependência química, tudo isso por causa do estigma e preconceito.
Em uma conversa pessoal e cuidadosa, ele incentiva os milhões de americanos em recuperação hoje a fazerem suas vozes ouvidas e confrontar o estigma associado aos transtornos por uso de substâncias.
Aqui temos um movimento bacana, a qual eu faço parte como voluntário, em que se advoga em prol a recuperação e a diminuição do estigma e preconceito para pessoas com TUS. Chama-se Faces e Vozes da Recuperação do Brasil.
Ao invés de dizer: Viciado, Usuário de Drogas, Nóia
Diga: Pessoa ou paciente com transtorno por uso de substância
Ao invés de dizer: Ex-viciado, Ex-drogado
Diga: Pessoa em recuperação a longo prazo
Ao invés de dizer: Alcoólico, bêbado
Diga: Pessoa ou paciente com transtorno por uso de álcool
Ao invés de dizer: Limpo
Diga: Em recuperação, abstinente de drogas, não bebe ou usa drogas
Já fui o filho da Dona Célia. Depois o nóia e drogadinho filho da Dona Célia. Hoje sou apenas o André Almeida, uma pessoa em recuperação a longo prazo.
Temos uma doença e não uma deficiência moral!!!
André Almeida, empreendedor e diretor executivo da My Journey Health, uma digital therapeutics (DTx) que cria jornadas terapêuticas personalizadas. Membro da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas.
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REFERÊNCIAS